segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Rudolph Dirks

Rudolph Dirks (1877, Heide, Alemanha - 1968), filho de um entalhador, vem para os Estados Unidos ainda criança, e no final da adolescência já pensa em seguir os passos do irmão mais velho, que havia se mudado pra Nova York para ser cartunista. 
Só que Dirks é um desses homens abençoados pela sorte e pela arte de tomar boas decisões. O dono do jornal em que trabalhava, o maioral dos quadrinhos Willian Randolph Hearst, por intermédio do seu editor-capataz Rudolph Block, o contrata para fazer uma versão de Max und Moritz, de Willen Bush no seu New York Journal. Obediente, Dirks submeteu seus sketchs a Bloch, que batiza os personagens de The Katzenjammer Kids, que, literalmente, significaria algo como "os meninos do gemido do gato". Na verdade, uma gíria da época para a ressaca, ou dor de cabeça. . A tira, que começou a ser publicada em dezembro de 1897, tem sucesso imediato. Seu irmão mais velho, Gus Dirks, que tentara ajudar Rudolph com a carreira de cartunista, torna-se seu assistente nos primeiros anos da tira, até suicidar-se em 1902.
Entrando na segunda década de publicação da tira, Dirks faz duas longas viagens. Na primeira foi lutar na Guerra Hispano-americana. Na segunda saiu de férias com sua família, o que foi considerado por Block e Hearst praticamente uma deserção, apesar dos 15 anos de trabalhos praticamente ininterruptos. Como Pullitzer queria dar o troco em Hearst pelo roubo de Outcault, contratou Dirks para o seu New York World. Seguiu-se uma encaniçada batalha legal e Hearst ficou com o nome, enquanto Pullitzer ficou com Dirks, que rebatizou a tira como Hanz and Fritz. Dois anos depois, graças ao anti-germanismo americano frente à I Guerra Mundial, o novo nome foi substituído por The Captain and the Kids (Os Sobrinhos do Capitão no Brasil), nome que se mantém até hoje. Da mesma forma, The Katzenjammer Kids, o nome pelo qual Hearst tanto lutou, foi trocado por The Sheananigan Kids. Hearst contratou Harold Knerr para continuar a série, tarefa que o americano realizou por 35 anos com brilho e eficiência até a sua morte, em 49.
Já Dirks trabalhou nos Sobrinhos do Capitão por mais cinquenta e cinco anos, com diversos assistentes e desenhistas fantasmas - incluindo seu próprio filho - até morrer, em 1968, aos 91 anos. Seu filho o sucedeu até falecer, em 1979, encerrando 82 anos de publicação sem interrupções. Os sobrinhos do Capitão ainda aparecem em coletâneas e jornais ao redor do mundo. 


O trabalho de Dirks, como o de Outcault com Buster Brown e tantos outros, é baseado na pantomima violenta e no humor de ação, como o nascente cinema mudo. Os historiadores que atribuem a Outcault a primeira história em quadrinhos com balões, relativizam o fato atribuindo a Dirks o uso do recurso com mais assiduidade. Mas na verdade o próprio Dirks entremesclou sua produção com tiras mudas e com balões, até que o recurso se tornou praxe em todos os cartunistas, graças principalmente a Opper, como falaremos a seguir. Entretanto, Dirks realmente criou alguns recursos gráficos que se tornaram comuns nos quadrinhos, como as estrelas para indicar dor, as fumacinhas que indicam movimento e as pegadas na bunda indicando o chute no traseiro. Invenções essas que, por si só, são impressionantes. 



Ainda assim, mesmo após o uso regular dos balões, as piadas prescindem de fala, sendo quase sempre pantomimas singelas, ainda que espetacularmente planejadas pelos dois demônios em forma de meninos. De qualquer forma, Dirks tem uma qualidade essencial, que confirma seu talento acima de um desenho mais elaborado ou as invenções que lhe são atribuídas: ele é tremendamente engraçado. As diabruras das duas pestes sempre tem um desenrolar superior ao seu planejamento diabólico, e quase sempre tomam proporções catastróficas e espetaculares. Como Os Trapalhões de Renato Aragão, em sua grande fase, Rudolph Dirks foi um mestre da piada cretina que faz você rir de forma cretina. E eu não conheço forma melhor de dar risada. Lanço, aliás, um desafio. Se alguém conseguir me convencer que prefere o sorriso de canto de boca provocado por um trocadilho duchampiano, eu deixo o felizardo me acertar uma torta na cara. 

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