sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Opper

Frederick Burr Opper (1857 - 1937) é um grande artista. Um dos mais talentosos da história dos quadrinhos e também dos mais importantes, no sentido do desenvolvimento do meio. Primeiro, muito mais que Dirks, Opper desenvolveu a a técnica dos balões, graças principalmente ao sua visão absolutamente peculiar sobre os quadrinhos, mas talvez pra isso tenhamos que partir do principio.

as mãos dos desenhos de Opper são das mais expressivas dos primeiros cartuns.

Filho de imigrantes austríacos, Opper, começa aos 19 a publicar charges políticas e ilustrações em revistas - principalmente a "Puck" - amealhando, em duas décadas, o reconhecimento nacional de seu talento. Aos 42 anos, quando é chamado por Hearst para trabalhar em seu New York Journal, Opper já é uma unanimidade no cartum político, como Angeli, nos dias de hoje.
expectativa de sua estréia é grande, principalmente entre seus pares. E é justamente eles que Opper não decepciona. Primeiro desenvolvendo um novo tipo de tira diária muito mais baseada na piada escrita do que em pantomimas visuais, trazendo com isso todo um novo tipo de público - e as exigências e expectativas que esse público traz - para os quadrinhos. Na verdade, criando praticamente um novo tipo de quadrinhos, um filão mais, digamospsicológico, do qual artistas como Schulz e Bill Watterson posteriormente iriam basear suas obras. E é justamente graças ao novo humor que Opper desenvolve o recurso gráfico dos balões tal como o conhecemos hoje, revolucionando o meio na direção de sua especificidade.  
Os quadrinhos não são uma narrativa ilustrada, ou mesmo uma história contada por imagens. Os quadrinhos são quadrinhos. Baseados em uma tradição e modo próprios que subsistem, ainda que por inversão de seus próprios valores, assim como a pintura de Malevich é pintura, ainda que contradiga valores pictóricos do passado como massa, composição e perspectiva. Portanto, quando Moebius cria uma história sem palavras, como em Arzach, ele não deixa de fazer quadrinhos, mas revigora sua tradição que - como todas as tradições artísticas modernas - sobrevive do atrito de seus limites.
O personagem que Opper criou para forçar os limites da nova arte e, portanto, renová-los, renovando, dessa forma, os próprios quadrinhos, foi Happy Hooligan. Happy é um irlandês vagabundo que busca a sobrevivência contando com eventuais ocupações que, de preferência, não o ocupem demasiado. Até aí, Opper faz parte da geração de Outcault, pródiga em olhares benevolentes para com os menos abastados, mas prontos para ridicularizar sua ignorância e suposta ingenuidade. Happy é como vários vagabundos dos quadrinhos e do cinema, como Chaplin. Malicioso e ingênuo. Ignorante mas com a sabedoria do sobrevivente. Entretanto, não é somente pela ação que o caráter e a atuação de Hooligan e de outros personagens na tira é caracterizada, mas pelo contraste entre os dialetos, pelos jogos de palavras e pela malícia dos diálogos. 


Existe, é verdade, uma mudança do humor da época, principalmente graças a febre das peças de vaudeville, quase sempre com dois atores. Duplas como como Webwe and Fields, Smith and Dale e Moran and Mack eram conhecidas nacionalmente. Opper também tinha a sua versão de uma dupla vaudevilliana: Alphonse and Gaston, sua criação mais engraçada, em nossa opinião. O roteiro é simples: Alphonse e Gaston são dois franceses tão educados, tão polidos, que não conseguem dar um passo adiante do outro, entrando eternamente em dilemas, que vão desde o casamento à quem entra primeiro no banco.



Opper criou mais duas tiras que atingiram fama, apesar de nenhuma alcançar a popularidade de Happy Hooligan. Uma delas é antecessora direta dos flintstones: Our Antediluvian Ancestors, iniciada em 1903.


E, por último, temos Her name was Maud (1904), em que, pela primeira vez, um animal - uma mula - é o protagonista de uma tira de jornal. Outra revolução nos quadrinhos. Como sabemos, 5 entre cada 10 das melhores tiras do futuro próximo e distante serão baseadas em animais.  O personagem que começa como topper - uma tira menor que encima uma página dominical - passa depois a ter uma página própria (outro acontecimento constante dos quadrinhos desde então). A trama é simples: uma mula, odiada por seu dono, livra-se dos atentados do mesmo graças ao seu coice incrível, que, por sua vez, coloca sempre o malvado em apuros. Opper publicou Maud, assim como Happy, até 1932. 



Os defeitos de Opper são de sua época, do qual o mais evidente é o final previsível, sempre culminando com a violência contra os protagonistas ou seus antagonistas e personagens secundários. Também suas qualidades são de uma época, como a liberdade de criar personagens inverossímeis - no sentido da continuidade - e os diálogos baseados da gíria contemporânea, que dão um ar veloz ao texto. O seu desenho também é datado, apesar de altamente artesanal e idiossincrático, impossível de ser feito por uma equipe, como era o caso de Dirks, para citar somente um exemplo entre a maioria quase absoluta. O desenho peculiar e intransferível será outra característica dos futuros "quadrinhos de autor", de Crumb a Marjane Sartrapi, em contraste ao trabalho menos autoral das grandes editoras e das franquias de personagens. 
Na velhice, por ter justamente se recusado a ter assistentes, os olhos de Opper cansaram-se, abrindo espaço para um desenho ainda mais fluido e narrativo. Suas obras-primas antes de sua aposentadoria. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário